No passado dia 20 de Setembro celebrou-se mais um Dia Mundial de Limpeza das Águas, no âmbito da Campanha “Clean up the World”, em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP).
No Brasil, várias atividades foram promovidas, aproveitando a data para alertar a sociedade civil para a limpeza das praias, em um país com 8.500 km de litoral, abrangendo diferentes ecossistemas e abrigando 70% da população brasileira (Internet 1).
É uma data interessante para todos os países CPLP. Todos os oito países de língua oficial portuguesa têm litoral, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste são países insulares, e os demais têm arquipélagos em seu território – alguns dos quais reservas da biosfera, como é o caso da Guiné-Bissau, com o arquipélago dos Bijagós (Internet 2).
Pela sua vulnerabilidade à poluição que já circula nos oceanos – uma “sopa de plástico” do tamanho de dois Estados Unidos flutuando no Oceano Pacífico (Internet 3) - e pela pressão humana sobre os recursos naturais, pela dependência direta das populações humanas em relação aos mesmos, aliada a uma presença ainda tímida da educação ambiental, os países CPLP podem se aproveitar da experiência de países que já se uniram em prol de um mundo mais limpo.
Da Campanha fazem parte 35 milhões de voluntários de mais de 100 países (Internet 4). O melhor da iniciativa é que ela é abrangente, democrática e ilustrativa do que pode fazer a consciência ambiental de uma sociedade esclarecida e crítica, que compreende o seu papel nesta era dos limites, onde as mudanças climáticas e assuntos correlatos podem ser incluídos em um único termo (sócio-ambientais), indicativo da relação estreita entre fenômenos ambientais e seus atores mais importantes – a sociedade humana.
A comunidade lingüística (CPLP) pode tornar-se um exemplo, aproveitando o idioma comum, para se projetar no cenário internacional, como grupo de países dispersos geograficamente, mas unidos em torno de um objetivo comum.
A modernidade trouxe o avanço do individualismo, tornando a idéia de “comunidade” cada vez mais ambígua. “As grandes revoluções modernas romperam com as estruturas socioeconômicas tradicionais, criando novas formas de vida e de cultura que tendem a se afastar do comunitarismo” (SANTOS JR. & NUNES, 2007, p. 61). Foi o sociólogo F. Tönnies que no final do século XIX demarcou “uma linha divisória entre o mundo tradicional e a modernidade, por meio da diferença conceitual entre comunidade (gemeinschaft) e sociedade (gesellschaft). A comunidade é orgânica e se fundamenta numa vontade natural (kuerwille), onde se busca o consenso” (SANTOS JR. & NUNES, 2007, p. 61).
Martin Buber foi outro autor que discutiu o relacionar-se, ao dizer, que “a comunidade em evolução é o estar um com o outro; de uma multidão de pessoas que, embora movimentem-se juntas em direção a um objetivo, experienciam em todo o lugar um dirigir-se um ao outro, um face a face dinâmico, um fluir do eu para o tu” (BUBER, 1982, p. 66).
Que este referencial conceitual possa ajudar a comunidade CPLP a se posicionar, de forma voluntária e pro-ativa, no enfrentamento das questões ambientais mais urgentes, em “tempos de velocidade, de desencantos e perdas de solidariedade” (SANTOS JR. & NUNES, 2007, p. 63)!
Referências
BUBER, M. Do diálogo e do dialógico. São Paulo: Perspectiva, 1982. 171 p.
Internet 1: http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./natural/index.html&conteudo=./natural/biomas/costeiros.html
Internet 2: http://www.rituais.com/Downloads/Guine-Bissau-Bijagos/Guine-Bissau-Bijagos.pdf
Internet 3: http://www.qualinter.com.br/portal/index.php?option=com_content&task=view&id=94&Itemid=87
Internet 4: http://www.cleanuptheworld.org/en/Membership/learn-more---join-the-campaign.html
SANTOS JR., S.J.; NUNES, A.M. Comunidades educadoras: a Terra como casa, a casa aberta à terra. In: FERRARO JR., L.A. (Org.). Encontros e Caminhos: formação de educadoras (es) ambientais e coletivos educadores. Brasília: MMA, Departamento de Educação Ambiental, 2007. chap. 5, p. 59-70.
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