terça-feira, setembro 16, 2014

‘Um bife de 500g consome 6 mil litros de água’

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‘Um bife de 500g consome 6 mil litros de água’

Yolanda Kakabadse, ex-ministra do Meio Ambiente do Equador, à frente do World Wide Life Fund desde 2010, ela veio à cidade ministrar a palestra ‘Amazônia no Rio’, na PUC.
“Nasci no Equador, me formei em psicologia educacional em Quito e fui ministra do Meio Ambiente do país. Em 2010, aceitei assumir a presidência do WWF por acreditar na agenda de compromissos. O WWF se deu conta de que não se pode proteger a natureza sem repensar o ser humano”
A entrevista é de Luiz Felipe Reis, publicada pelo jornal O Globo, 12-09-2014.
Eis a entrevista.
Conte algo que não sei.
Em 19 de agosto, atingimos o consumo do máximo que o planeta pode oferecer de recursos em 2014. Agora, já estamos esgotando as fontes de 2015. É como uma conta no banco. Estamos no vermelho e não temos de onde tirar, mas continuamos a consumir e a criar débito. Isso se chama ecological overshoot. É ultrapassar o limite do que o planeta pode dar. É quando o nosso consumo, em um ano, é maior que a capacidade de regeneração dos recursos.
Somos mais de 7 bilhões de humanos. Especialistas dizem que, para atender às atuais demandas, estamos consumindo recursos de um planeta e meio. Isso é verdade?
Sim. Estamos devendo e consumindo mais do que temos, sem parar. É como uma casa. Sem ter como pagar a conta, você começa a vender quadros, móveis, porta, janela, até não restar nada, nem a casa. Estamos nessa direção, consumindo além da reserva.
A senhora veio ao Rio para falar da Amazônia e da água. Até que ponto dependemos do equilíbrio do ecossistema amazônico para ter água?
Vim para falar de água e da nossa insegurança em relação a ela. Temos uma tremenda ameaça enquanto a Amazôniaestiver sendo degradada. Nossa água depende dela. Sem água, não há produção de energia e alimento.
São Paulo enfrenta, hoje, uma seca. Há relação direta entre a degradação da Amazônia e a seca? A Amazônia influencia em que grau o equilíbrio da água no Sudeste?
Todos os países amazônicos dependem deste ecossistema. Cada vez que destruímos um hectare, reduzimos a quantidade de água. Se o desmatamento da Amazônia continuar, São Paulo vai enfrentar uma seca como a de agora a cada dois anos, e cada vez mais forte, assim como os ventos serão mais intensos e o clima mais quente, o que afeta as calotas polares. 75% do PIB dos cinco países da Bacia do Prata (Brasil, Uruguai, Bolívia, Paraguai e Argentina) dependem da água do Amazonas. Só pensamos em fazer girar as hidrelétricas, mas não em preservar a floresta. Em pouco tempo, não teremos floresta, nem água e nem energia, já que as hidrelétricas não terão água.
Mas, de acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU, o IPCC 2014, a Amazônia não corre mais o risco de virar savana até 2100, como anteriormente previsto. E, apesar do crescimento em 2013 divulgado quinta-feira pelo Inpe, monitoramentos apontam que, desde 2004, o desmatamento caiu entre 70 e 80%.
OK, houve uma diminuição importante num dado período, mas estamos mal. Temos que chegar ao índice zero. Ainda há um intenso desmatamento ilegal. Hoje, o problema é que nenhum país tem controle sobre o que está ainda em processo de degradação.
Temos pouca água ou o problema é o consumo excessivo, ou o desperdício?
De toda a água do mundo, 97% são água salgada, e só 0,3%, doce. Ainda assim, o problema não é a falta, mas o desperdício. Um bife de 500g consome 6 mil litros de água! Ou seja, é o volume de água que se gasta para produzir e fazer esta quantidade de carne chegar ao nosso prato. Sabe quanta comida ensacada é desperdiçada? 43% da produção global. Isso é imoral, irracional, não é humano.
O que é preciso fazer?
Repensar esse modelo de produção e consumo. Os países tropicais precisam usar energia solar, premiar quem usaenergia alternativa e taxar o carbono. A desculpa de que usar petróleo é mais barato não vale mais. Temos que agir pelo que necessitamos, não pelo que desejamos. Com o crescimento das cidades, nós nos afastamos da natureza e perdemos o senso de que no seu equilíbrio com a ação humana está nossa sobrevida. 

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