sábado, agosto 23, 2014

“Governo tem sempre muita pressa quando se trata de destruir a economia de Portugal”

esquerda net
http://www.esquerda.net/artigo/governo-tem-sempre-muita-pressa-quando-se-trata-de-destruir-economia-de-portugal/33823


“Governo tem sempre muita pressa quando se trata de destruir a economia de Portugal”

Catarina Martins questionou a "pressa" do Governo para "destruir a economia" do país, referindo-se à marcação de um plenário extraordinário para reapreciação dos diplomas avaliados pelo Tribunal Constitucional. A coordenadora voltou a insistir na necessidade de uma sindicância para averiguar sobre eventuais fugas de informação no caso do BES.
Catarina Martins e Joana Mortágua reuniram com a Comissão de Trabalhadores dos CTT. Foto de Paulete Matos
"Este Governo tem sempre muita pressa quando se trata de destruir a economia de Portugal. Nunca se viu tanta pressa como agora: é preciso fazer plenários para ter mais cortes e portanto aprofundar o problema económico em Portugal, e isso naturalmente não é aceitável, não é disso que o país precisa", declarou Catarina Martins aos jornalistas na sede do Bloco, em Lisboa, depois de se ter reunido com uma delegação da comissão de trabalhadores dos CTT.
A coordenadora bloquista falava depois de se saber que o vice-presidente da Assembleia da República Guilherme Silva convocou para quinta-feira uma reunião da comissão permanente para a marcação de um plenário extraordinário, no qual serão reapreciados os diplomas avaliados pelo Tribunal Constitucional.
Catarina Martins lamentou que "um Governo que não teve de consultar ninguém, ouvir ninguém, para entregar quase cinco mil milhões de euros de dívida pública ao BES esteja agora tão preocupado com normas que não representam nem um décimo" desse montante.
Ainda sobre o BES, a coordenadora bloquista voltou a insistir na necessidade de uma sindicância para averiguar sobre eventuais fugas de informação sobre a matéria, demonstrando-se também disponível para uma comissão de inquérito parlamentar sobre a situação recente no banco e no Grupo Espírito Santo (GES).
Guilherme Silva, que substitui a presidente da Assembleia da República (AR), Assunção Esteves, que se encontra ausente, disse hoje à agência Lusa que convocou para quinta-feira às 15:00 uma reunião da comissão permanente da AR, seguida de uma conferência de líderes às 16:00.
Na terça-feira, os líderes parlamentares do PSD e do CDS-PP enviaram à presidente da AR um requerimento conjunto a solicitar a marcação de uma reunião da comissão permanente com o objetivo de agendar um plenário que possa reapreciar os diplomas avaliados pelo Tribunal Constitucional, relativos aos cortes salariais no setor público e à contribuição de sustentabilidade.
Bloco entende que venda da participação pública nos CTT é "perigosa" e "inaceitável"
"Os correios são um serviço público por natureza. A privatização dos correios, até agora, mostrou nestes sete meses uma degradação da qualidade do serviço que as populações sentem. O Estado vender o que resta, a participação de mais 30% neste momento, é algo que ninguém pode compreender, é perigoso e é mesmo inaceitável", declarou a coordenadora bloquista Catarina Martins.
Em junho, o Governo aprovou a privatização do capital que ainda detém nos CTT (31,5%), operação que deverá ocorrer através de venda direta institucional como "modalidade autónoma", a realizar via sindicato bancário ou por dispersão direta junto dos investidores.
Para o Bloco, setores estratégicos "essenciais" na economia portuguesa "não podem ser geridos por privados", e "os correios são um serviço assim".
"É particularmente grave que neste contexto o Governo queira agora aprofundar o erro retirando qualquer participação do Estado no capital dos CTT", disse Catarina Martins.
O Bloco foi também informado pelos trabalhadores da proposta feita pela administração dos CTT para o novo Acordo de Empresa (AE), que o Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações (SNTCT) considerou já "uma vergonha".
Na semana passada, os CTT - Correios de Portugal denunciaram o AE, tendo enviado uma nova proposta às 12 organizações sindicais representantes dos trabalhadores com vista ao início do processo negocial.
O atual Acordo de Empresa está em vigor desde 27 de abril de 2013 até 27 de outubro deste ano.

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Fatores demográficos e ambientais favorecem vírus emergentes que ameaçam humanos

ihu
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/534443-fatores-demograficos-e-ambientais-favorecem-virus-emergentes-que-ameacam-humanos

Fatores demográficos e ambientais favorecem vírus emergentes que ameaçam humanos

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 154 novas doenças virais foram descobertas entre 1940 e 2004, das quais três quartos são infecções transmitidas do animal para o ser humano.
A reportagem é de Elisabeth Zingg, da AFP, publicada pelo Yahoo Notícias, 19-08-2014.
Vírus como os da Aids, da Sars, do H1N1 e do Ebola ocupam com frequência as primeiras páginas dos jornais, impulsionados pela pressão demográfica, pelas mudanças climáticas e por fenômenos migratórios. Matéria de Elisabeth Zingg, da AFP, no Yahoo Notícias.
“As doenças virais emergentes estão em ascensão, principalmente por causa da densidade e da mobilidade das populações”, resumiu Arnaud Fontanet, encarregado da unidade de Epidemiologia das Doenças Emergentes do Instituto Pasteur, em Paris.
A opinião do especialista é compartilhada por Jean-François Delfraissy, diretor da Agência Nacional de Pesquisas sobre a Aids, que destaca que os vírus emergentes “chegam, fundamentalmente, dos países do sul, ou seja, da Ásia ou da África” e sua propagação para o resto do mundo é facilitada pelas viagens de avião.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 154 novas doenças virais foram descobertas entre 1940 e 2004, das quais três quartos são infecções transmitidas do animal para o ser humano (zoonoses). Este foi o caso do vírus da Aids, transmitido aos homens pelos chimpanzés na África, provocando uma das epidemias mais mortais dos últimos cinquenta anos, que já deixou 40 milhões de mortos.
As doenças emergentes também podem ser causadas por “mutações ou recombinações virais”, observadas particularmente nos vírus da gripe.
- Reserva animal -
Um vírus pode, finalmente, “emergir” em uma região onde até então estava ausente porque as doenças e os animais atravessaram fronteiras e alcançaram populações não imunizadas, tornando-se, assim, mais virulentas: o melhor exemplo continua sendo o do vírus do Nilo Ocidental, transmitido pelos mosquitos.
Isolado em 1937 em Uganda e detectado depois no Oriente Médio nos anos 1950, o vírus chegou em 1999 na América do Norte, onde se propagou rapidamente, deixando centenas de vítimas, geralmente falecidas por meningite ou encefalite.
Antes de atacar o ser humano, os vírus podem permanecer muito tempo confinados em uma reserva animal, geralmente aves selvagens ou morcegos, destacou Fontanet.
Para ir mais longe, precisam de “hospedeiros intermediários” mais próximos do homem, como o porco, as aves de criação ou os mosquitos, além de condições favoráveis.
A gripe aviária H5N1 surgiu no sul da China, em regiões fortemente povoadas e de forte densidade avícola.
O coronavírus causador da Sars (síndrome respiratória aguda grave), responsável por uma crise sanitária mundial em 2003, que deixou 800 mortos, principalmente na Ásia, aparentemente migrou do morcego para o homem através das ginetas (“Genetta genetta”), pequenos mamíferos carnívoros servidos nos restaurantes de Cantão.
- Mudanças climáticas -
O desmatamento leva a uma aproximação dos animais selvagens das zonas habitadas, enquanto as mudanças climáticas favorecem a multiplicação de mosquitos em regiões onde eram desconhecidos anteriormente.
Este é o caso do vírus da dengue e da chikungunya, transmitidos por dois mosquitos – “Aedes aegypti” e “Aedes albopictus” -, muitas vezes circunscrito ao sudeste asiático, mas atualmente está implantado no continente americano e em parte da Europa, inclusive no sul da França.
Segundo Fontanet, todas as condições estão reunidas para que a febre chikungunya, inicialmente surgida na África oriental e na Índia, e que atualmente afeta o Caribe, se propague em todo o continente americano.
Quanto ao vírus Ebola, descoberto em 1976 em dois surtos simultâneos no Sudão e na República Democrática do Congo, não preocupava os especialistas até a epidemia atual.
“Anteriormente, a infecção estava limitada a alguns poucos povoados e havia uma mortalidade tal que o vírus se esgotava e a epidemia se detinha sozinha”, explicou Delfraissy.
Ao alcançar cidades de vários países do oeste da África, o vírus se tornou uma ameaça para as populações afetadas, confrontadas com sistemas de saúde muito deficientes, apesar de que só se transmite por contato direto com pessoas infectadas e não por via respiratória, como foi o caso do Sars.
Segundo especialistas, por esta razão, o Ebola tem poucas chances de se espalhar para outras regiões do mundo.
“Se os meios necessários forem dedicados e os doentes, isolados, a epidemia deve poder ser contida em um prazo de 3 a 6 meses”, afirmou Fontanet.
Veja também:

Emissões agrícolas de gases de efeito estufa duplicaram nos últimos 50 anos

adital
http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=82018

Emissões agrícolas de gases de efeito estufa duplicaram nos últimos 50 anos

Natália Fonteles
Adital
A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) informa que a América latina e Caribe são a segunda região que mais emite gases nocivos em atividades agrícolas do mundo, sendo responsável por 17% da emissão desses gases nocivos. A organização alerta que as emissões continuarão aumentando desastrosamente caso não haja um esforço conjunto dos governos para diminuí-las.
De acordo com os dados da FAO, a América Latina e Caribe duplicaram a emissão de gases de efeito estufa por meio das atividades agrícolas (cultivo e pecuária) nos últimos 50 anos. Os dados relatam que essas emissões cresceram de 388 para 900 milhões de toneladas equivalentes de dióxido de carbono, no período de 1961 a 2010. A FAO afirma ainda que os cultivos e a pecuária já geraram cerca de 860 milhões de toneladas de CO2 e que a queima da biomassa produziu 31 milhões de toneladas. no período de 2001 a 2010.
Para incentivar acordos e políticas para a diminuição de emissão de gases de efeito estufa na América Latina, a entidade organizou, em San José, Costa Rica, no dia 21 de julho deste ano, um encontro com 15 especialistas de países latino-americanos para debater as novas tecnologias e políticas eficazes para a redução da emissão dos gases nas atividades agrícolas.
Durante a oficina "Capacitação para os estoques de emissões e planos de mitigação no setor da agricultura, uso da terra, mudança de uso da terra e silvicultura", organizada pela FAO, foram capacitados representantes dos países para a preparação de relatórios sobre gases e mudança climática, a fim de saber, com precisão, a real necessidade de ajustes em cada país.
A FAO alerta que os países precisam de mais planejamento sobre ações nacionais de redução de gases de efeito estufa e precisam participar dos Acordos de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação entre os países, no intuito de reforçar a meta de diminuição dos danos causados ao meio ambiente.
Segundo a organização, é fundamental que a América Latina crie novas políticas públicas de controle de emissãoo de gases e que haja um entendimento sobre os danos causados.

Natália Fonteles

Especial para ADITAL

segunda-feira, agosto 18, 2014

Iraque: o horror da guerra aos olhos das crianças

ihu
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/534355-iraque-o-horror-da-guerra-aos-olhos-das-criancas


Iraque: o horror da guerra aos olhos das crianças

Meninas estupradas e depois vendidas no mercado de escravos. Crianças alistadas à força nas milícias jihadistas e depois também estupradas. Isso pode ser lido nas Horizontal notes, o último relatório trimestral elaborado pelo pessoal da Unicefno Iraque, em que, entre os números, as estatísticas e tantas localidades escritas em árabe, é fácil perceber os gritos de dor e de terror lançados pelas jovens RaghadJinanLouisee Zozan ou pelos pequenos Raed AyadShero e Clément.
A reportagem é de Pietro Del Re, publicada no jornal La Repubblica, 13-08-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A lista de atrocidades e abusos cometidos contra menores pelos grupos do Estado Islâmico foi redigida em nome do secretário-geral das Nações UnidasBan Kimoon, que, depois, deverá referi-lo ao Conselho de Segurança.
Quem revela as atrozes verdades nele contidas é Marzio Babille, de Trieste, um pediatra com vasta experiência na ajuda humanitária e representante da organização da ONU para a infância em BagdáEd Erbil.
Diz Babille: "São acusações cuidadosamente avaliadas pelos nossos funcionários infiltrados in loco: nos últimos seis ou sete meses, desde que começou a grande ofensiva do Estado Islâmico no norte e no centro do Iraque, os crimes contra os menores aumentaram incrivelmente de Ambar a Tikrit, de Fallujah a Mosul e Qaraqosh, ou seja, em todos os territórios conquistados pelo autoproclamado califa Abu Bakr Al Baghdadi".
As vítimas dessas violências não são apenas as crianças cristãs, mas as de todas as minorias que, das periferias deBagdá à planície de Nínive, ou às férteis margens do Tigre e do Eufrates, ficaram presas durante o irresistível avanço militar das brigadas jihadistas.
Entre essas minorias, contam-se os yazidi, os xiitas, os turcomanos e os curdos, ou seja, todos aqueles que os islamitas consideram infiéis e sobre os quais infligem as piores humilhações. "Em uma família, quando há duas meninas, uma é automaticamente sequestrada pelo Estado Islâmico, que a coloca a leilão no mercado das escravas sexuais ou que faz dela um presente aos seus milicianos, talvez como prêmio por uma vitória no fronte."
Se na família houver crianças, os jihadistas sorteiam os meninos, que, quando têm a infelicidade de serem crianças lindas, também são transformados em objetos sexuais. Recém-alistadas, essas crianças são imediatamente armadas e equipadas militarmente a partir do zero, mas, estando muitas vezes assustadíssimos com o que está acontecendo com eles e por serem pequenos demais para poderem se comportar como verdadeiros soldados, são selvagemente espancados pelos seus raptores.
Para proteger a infância das violações nos países marcados por conflitos sangrentos como a Somália, o Afeganistão, a Síria ou justamente o Iraque, a organização das Nações Unidas elaborou a seguinte lista de crimes-tabu contra menores: o assassinato e a mutilação de crianças, o sequestro, o estupro e outros atos sexuais, o recrutamento por grupos armados, a destruição de escolas e de hospitais, a restrição voluntária do espaço humanitário.
"Pois bem, no Iraque, todos esses crimes estão sendo cometidos atualmente pelos grupos islamitas, como demonstram os circunstanciados testemunhos pacientemente coletados pelos nossos operadores junto às famílias, em sua maioria relutantes a confessar a estranhos as injustiças que os seus filhos sofreram", acrescenta Marzio Babille.
E é nesses questionários científicos – em que se pergunta às vítimas quando, onde, a que horas e em que lugar foi transgredida uma lei contra os menores – que transparecem as mais abomináveis atrocidades.
De fato, as respostas dadas muitas vezes falam de famílias separadas, de filhos arrancados dos braços dos pais, de torturas, de homicídios e de traumas indizíveis, tudo cometido em nome de uma fé desviada.
Entre as minorias iraquianas, a que é mais maltratada pelo Estado Islâmico talvez seja a yazidi, por ser a menor, a mais fechado e a mais indefesa. Quem dá voz a esse povo antigo é a sua deputada no parlamento de BagdáVian Dakhil, que, em primeiro lugar, gritou ao mundo o genocídio em curso.
No dia 12, ela ficou ferida no acidente do helicóptero em que viajava e que estava realizando um reconhecimento humanitário no norte do Iraque, transportando ajudas humanitárias destinadas a dezenas de milhares de pessoas que ficaram presas nas montanhas de Sinjar enquanto fugiam dos jihadistas.
Única representante política da sua minoria e deputada da Aliança Curda, há quatro dias, Dakhil tinha dirigido um apelo apaixonado ao presidente do parlamento justamente para salvar os yazidi presos nas montanhas.
No domingo passado, ela também denunciara que, a cada dia, 50 crianças morrem de diarreia e de desidratação. No dia 12, antes de embarcar no helicóptero, a deputada também revelou à imprensa internacional que há dias jihadistas mantém como reféns mais de 600 meninas yazidi em uma das prisões da província de Nínive. Agora também sabemos o destino delas.
Babille diz: "Durante a minha longa carreira como médico de guerra, morreram muitas crianças entre os meus braços, principalmente de malária ou de tifo. Mas ver uma criança morrendo de sede é realmente assustador. Nas montanhas acima de Sinjar, devem ter ficado 30 mil yazidi. Mas talvez já sejam muito menos: o cansaço e a falta de comida e de água estão dizimando aos milhares".
Entre as muitas histórias recolhidas na última Horizontal note do Unicef no Iraque, uma é particularmente triste. É a da pequena Gihan, cristã de Mosul. Quando as milícias arrombaram a porta de sua casa para roubar os poucos bens da sua família, os seus pais tinham conseguido escondê-la. Dois dias depois, o pai carregou todos no carro para tentar a fuga para o Curdistão iraquiano. Partiram em plena noite, mas o carro em que fugiam foi parado pelos islamitas depois de alguns quilômetros. Desde então, perderam os rastros de Gihan. Ela tem apenas 12 anos.

segunda-feira, agosto 11, 2014

Será possível consumir sem alienar-se?

OP
http://outraspalavras.net/blog/2014/08/08/e-possivel-consumir-sem-alienar-se/


Será possível consumir sem alienar-se?


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Novo aplicativo permite desvendar, pelo código de barras, práticas antiéticas que empresas tentam esconder. Ferramenta já é usada para boicotes — por exemplo, contra produtos israelenses
Por Gabriela Leite
Imagine-se entrando em um supermercado para comprar uma garrafa de cerveja. Chegando lá, além de escolher pelo preço ou pelo sabor, você também pode analisar. Rejeita a marca que desrespeita os direitos dos trabalhadores. Evita aquela que faz publicidade machista. Por fim, escolhe a que utiliza ingredientes orgânicos. Na prateleira de cosméticos, pula os que ainda fazem testes em animais. Assusta-se ao perceber que uma das marcas faz parte de multinacional de alimentos. Finalmente, escolhe o creme hidratante da empresa que usa energia renovável.
Essa é a ideia do aplicativo Buycott (um trocadilho de “buy” — comprar, em inglês — com “boycott” — boicote). Criado por Darcy Burner, uma ex-desenvolvedora norte-americana da Microsoft, o programa para celulares ligados à internet baseia-se numa ferramenta do próprio capitalismo: o código de barras… Estimula os usuários escaneá-los, com o próprio telefone. E, ao identificar cada produto, associa seu fabricante a um banco de dados que pode tornar-se cada vez mais completo. Oferece todas as informações disponíveis: desde se o produto utiliza químicos cancerígenos até se a empresa apoia o direito dos transexuais.
O software é participativo. As classificações dos produtos são chamadas de campanhas, e podem ser criadas por qualquer usuário, dentro de algumas categorias. Algumas delas: direitos dos animais, justiça econômica, meio ambiente, comida, direitos humanos, direitos das mulheres. O usuário escolhe participar das campanhas que quiser e, em seguida, pode passar a escolher um produto de acordo com seus princípios pessoais.
No Brasil, ainda é bastante difícil achar produtos que estejam em listas. Isso pode ser rapidamente alterado. Depende apenas de que usuários da internet comecem a registrar produtos e criar campanhas. Isso permitiria diversos tipos de boicote: contra empresas que financiam certos políticos; contra uma indústria que esteja na lista do trabalho escravo; ou alguma marca cujo presidente mostrou-se contra os direitos das mulheres, por exemplo. Para testar, escaneamos o código de barras de dois produtos. O primeiro foi uma câmera Canon. Sobre ela, o aplicativo avisou: “você apoia esta marca por responsabilidade ecológica”, e mostrou que a marca está na lista positiva de “Energia limpa e renovável”. Acessamos seu site e vimos que realmente há uma campanha de reciclagem de toners de suas impressoras, por exemplo.
140807-boicote01Já no momento em que fotografamos o código de barras de um cosmético da L’Oreal, o Boycott advertiu: “evite este produto”. Em seguida, explica: a marca faz parte do conglomerado da Nestlé. Por isso, está na lista suja de uma campanha deboicote à multinacional. O movimento adverte que o presidente da empresa, Peter Brabeck-Latmathe, já afirmou que “o acesso à água não é um direito humano”, e sua a indústria rouba a água potável de uma pequena comunidade no Paquistão, deixando seus habitantes passarem sede.
A L’Oreal ainda pertence a outra campanha: a “Long live Palestine, boycott Israel” (“longa vida à Palestina, boicote Israel”). Esta é uma das de mais sucesso nas últimas semanas, como afirma a página detrends do aplicativo — já tem 230 mil seguidores. “A L’Oreal estabeleceu Israel como seu centro comercial no Oriente Médio e aumentou o investimento e atividades manufatureiras”, alerta. Se acreditar que deve haver um boicote econômico a Israel, após o massacre na faixa de Gaza das últimas semanas, o consumidor pode escolher não comprar a marca. Se fizesse isso sozinho, sua ação não seria nem levemente sentida pela marca de cosméticos. Mas, em rede, essa atitude tende a crescrer consideravelmente — e, talvez, pode chegar até a incomodar a gigante Nestlé.
Por séculos, o consumo tem sido uma das bases do processo dealienação capitalista. Ao comprar algo, legitimamos e fortalecemos relações sociais que ignoramos. É como se nossos valores éticos fossem irrelevantes ou impotentes, e devêssemos consumir levando em conta apenas fatores superficiais: preço, aparência, publicidade, suposta “qualidade” do produto. Agora, parece que a tecnologia pode ser utilizada para atitudes distintas. Haverá consciência social suficiente para que elas se disseminem?

quarta-feira, agosto 06, 2014

''Gaza tornou-se um gueto. Com o apartheid, Israel nunca construirá a paz.'' Entrevista com Zygmunt Bauman

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''Gaza tornou-se um gueto. Com o apartheid, Israel nunca construirá a paz.'' Entrevista com Zygmunt Bauman

A amargura do intelectual polonês de origem judaica. Tendo fugido do Holocausto, ele não poupa críticas aoHamas e a Netanyahu: "Eles pensam na vingança, não na convivência. Infelizmente, está acontecendo o que estava amplamente previsto. A Shoah é a prova daquilo que os homens são capazes de fazer a outros seres humanos em nome dos seus interesses. Uma lição nunca leva seriamente em consideração."
A reportagem é de Antonello Guerrera, publicada no jornal La Repubblica, 05-08-2014. A tradução é deMoisés Sbardelotto.
"Aquilo que estamos assistindo hoje é um espetáculo triste: os descendentes das vítimas dos guetos nazistas tentam transformar a Faixa de Gaza em outro gueto." Quem diz isso não é um palestino furioso, mas Zygmunt Bauman, um dos principais intelectuais contemporâneos, de família judaica que escapou doHolocausto ordenado por  Hitler, graças a uma tempestiva fuga para a URSS em 1939.
Bauman tem 88 anos, seu pai era um granítico sionista e, ao longo dos anos, eviscerou como poucos a aberração e as consequências da Shoah. Até agora, o grande estudioso polonês não quisera se expressar publicamente sobre o recrudescimento do abissal conflito israelense-palestino.
Mas agora, depois de ter se referido à questão há alguns dias no Futura Festival de Civitanova Marche, em um encontro organizado por Massimo ArcangeliBauman confessa a sua amargura nesta entrevista ao La Repubblica.
Eis a entrevista.
Professor Bauman, o senhor é um dos maiores intelectuais contemporâneos e é de origem judaica. Qual foi a sua reação à ofensiva israelense em Gaza, que até agora provocou quase dois mil mortos, muitos deles civis?
Isso não representa nada de novo. Está acontecendo o que tinha sido amplamente previsto. Por muitos anos, israelenses e palestinos viveram em um campo minado, prestes a explodir, mesmo que nunca saibamos quando. No caso do conflito israelense-palestino, foi a prática do apartheid – nos termos de separação territorial exacerbada pela recusa ao diálogo, substituído pelas armas – que sedimentou e atiçou essa situação explosiva. Como escreveu o estudioso Göran Rosenbergno jornal sueco Expressen no dia 8 de julho, antes da invasão de GazaIsrael pratica o apartheid recorrendo a "dois sistemas judiciários claramente diferentes: um para os colonos israelenses ilegais e outro para os palestinos 'foras da lei'.
Além disso, quando o exército israelense acreditou ter identificado alguns suspeitos palestinos [na caça aos responsáveis pelo homicídio de três adolescentes israelenses sequestrados na Cisjordânia em junho passado], pôs sob ferro e fogo as casas dos seus pais. Ao contrário, quando os suspeitos eram judeus [pelo caso posterior do menino palestino queimado vivo], não aconteceu nada de tudo isso. Este é o apartheid: uma justiça que muda com base nas pessoas. Sem falar nos territórios e nas estradas reservadas apenas a poucos". E eu acrescento: os governantes israelenses insistem, com razão, no direito do próprio país viver em segurança. Mas o seu erro trágico reside no fato de que concedem esse direito só a uma parte da população do território que controlam, negando-o aos outros.
Como o senhor mesmo destaca, no entanto, Israel deve defender a sua existência ameaçada pelo Hamas. Há quem diga, como os EUA, que a reação do Estado judaico contra Gaza é dura, mas necessária, e quem a julgue como excessiva e "desproporcional". O que o senhor acha?
E como seria uma reação violenta "proporcional"? A violência freia a violência como a gasolina no fogo. Quem comete violência, de ambas as partes, compartilha o compromisso de não apagar o incêndio. No entanto, a sabedoria popular (quando não está cega pelas paixões) nos lembra: "Quem semeia vento colhe tempestades". Essa é a lógica da vingança, não da convivência. Das armas, não do diálogo. De maneira mais ou menos explícita, é cômodo a ambos os lados do conflito a violência do adversário para revigorar as suas próprias posições. E e o resultado é: tanto o Hamas quanto o governo israelense, tendo concordado que a violência é o único remédio para a violência, defendem que o diálogo é inútil. Ironicamente, mas também dramaticamente, ambos poderiam ter razão.
O que o senhor pensa, especificamente, do primeiro-ministro israelense, Netanyahu, e do seu governo? Ele cometeu erros?
Netanyahu e os seus associados, e ainda mais os israelenses que anseiam pelo seu próprio posto, esforçam-se para fomentar o desejo de vingança contra os seus adversários. Espalham sementes de ódio, porque temem que o ódio do passado enfraqueça. À luz da sua estratégia, esses não são "erros". Os governantes israelenses têm mais medo da paz do que da guerra. Além disso, eles nunca aprenderam a arte de governar em contextos pacíficos. E, ao longo dos anos, conseguiram contaminar grande parte de Israel com a sua abordagem. A insegurança é a sua melhor, e talvez única, vantagem política. E talvez vencerão facilmente as próximas eleições aproveitando-se dos medos dos israelenses e do ódio dos vizinhos, que fizeram de tudo para fortalecer.
No passado, o senhor foi um crítico do sionismo e do uso que Israel faz da tragédia do Holocausto para justificar as suas ofensivas militares. O senhor ainda pensa assim?
Raramente a vitimização enobrece as suas vítimas. Ou, melhor, quase nunca. Muito frequentemente, no entanto, provoca uma única arte, que é a do sentir-se perseguido. Israel, nascido depois do extermínio nazista contra os judeus, não é uma exceção. Estamos diante de um triste espetáculo: os descendentes das vítimas nos guetos tentam transformar a Faixa de Gaza em um gueto que beira a perfeição (acesso bloqueado na entrada e na saída, pobreza, limitações), fazendo com que alguns tomem o seu testemunho no futuro.
A esse respeito, o que o senhor pensa do silêncio de políticos e intelectuais europeus sobre o conflito que explodiu novamente em Gaza?
Acima de tudo, não existe a "comunidade internacional" de que falam norte-americanos e europeus. Estão em jogo apenas coalizões extemporâneas, ditadas por interesses particulares. Em segundo lugar, como observou Ivan Krastev, celebrando o centenário do início da Grande Guerra, nós, europeus, temos bem em mente que uma reação "excessiva", como a do homicídio de Francisco Ferdinando, levou à catástrofe "que ninguém queria ou esperava".
O senhor escreveu no passado que a sociedade moderna não aprendeu a gélida lição do Holocausto. Esse conceito também pode ser aplicado ao conflito israelense-palestino?
As lições do Holocausto são muitas. Mas pouquíssimas delas foram seriamente levadas em consideração. E muito menos foram aprendidas – sem falar naquelas que realmente foram postas em prática. A mais importante dessas lições é: oHolocausto é a prova inquietante daquilo que os humanos são capazes de fazer a outros seres humanos em nome dos seus próprios interesses.
Outra lição é: não pôr um freio nessa capacidade dos humanos provoca tragédias, físicas e/ou morais. Essa lição, no nosso mundo veloz, globalizado e irreversivelmente multicêntrico, adquire ainda uma importância universal, aplicável a todos os antagonismos locais. Mas não há uma solução de curto prazo para o impasse atual. Aqueles que pensam só em se armar ainda não aprenderam que, por trás das duas categorias de "agressores" e "vítimas" da violência, há uma humanidade compartilhada. Nem percebem que a primeira vítima de quem exerce violência é própria humanidade. Como escreveu Asher Schechter no Haaretz, a última onda de violência na região "fez com que Israel desse mais um passo para aquele torpor emotivo que se recusa a ver qualquer sofrimento que não seja o próprio. E isso é demonstrado por uma nova e violenta retórica pública".
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